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15 de jul. de 2012

Everclear

Ontem fez um daqueles frios que a gente não se esquenta com nada. Um frio que você se agasalha mas não se aquece. Perambulei pela casa e fiquei pensando o que poderia tomar para me aquecer internamente, quando vi um masu e resolvi que iria tomar uma dose de saquê. Destilados não são meu favoritos, pois acho todos estranhamente e desagradavelmente fortes. Porém o saquê é mais simpático e embora o teor alcoólico seja parecido com os de um vinho, a impressão que se tem é que ele é mais fraco. Ao saborear fiquei pensando que o saquê não é doce, não é cítrico, não é amargo. Não é forte, não é fraco. Não parece exatamente uma bebida tão alcoólica, mas é. O sabor não é sonso, mas também não é marcante. A bebida para nós é quase neutra, porém no Japão ela é consumida em grandes celebrações, portanto tem a sua relevância cultural naquele país. Pensando bem, se saquê fosse um dia, seria um dia nublado. Fosse uma cor, ele seria cinza. Se fosse forma, ele seria um círculo. Exatamente como a relevância de algumas pessoas que passam pelas nossas vidas como um masu de saquê. Não fazem a mínima diferença e você tem que se esforçar para se lembrar que um dia elas existiram. Você sequer consegue lembrar se tinham algum paladar. Outras, são vento forte, verdadeiros vendavais que passam derrubando todos os muros,as paredes e quebrando os vidros de todas as janelas. Se fossem comparadas a uma bebida, seriam uma Everclear, cujo teor alcoólico está entre incríveis 75 e 95%. Por esse teor etílico altíssimo essa bebida é proibida, rarissimamente encontrada e usada até para acender fogueiras. E por isso mesmo, são exatamente como algumas raras pessoas.

10 de jul. de 2012

O tempo não pára

Já dizia Cazuza com muita propriedade, pois o tempo não pára mesmo. Porém, se você espera que ele passe logo por qualquer motivo que seja, ai ele congela. Infelizmente, ele congela quando paramos para esperar as coisas boas da nossa vida. Elas parecem não chegar nunca. As coisas ruins, por sua vez, chegam bem rapidamente. Lembro-me que quando bem garotinha eu morria de vontade de usar sutiã, depilar as pernas, modelar as sobrancelhas e "fazer 18". Fazer 18 era mágico! Todas nós queríamos. Ir para as baladas sem restrições, tirar a famigerada carteira de motorista e parar de dirigir clandestinamente. Namorar quem a gente bem entendesse, pois se a mãe dissesse algo contra, afinal de contas, tínhamos 18 e éramos donas do nariz, da vida e do mundo. Tínhamos chegado até ali e a partir dali tudo podíamos. Ou quase tudo. Nessa época da vida achamos que sabemos qual a melhor faculdade a ser feita. Aquela que nos conduzirá para o resto de nossas vidas para um mundo profissional que ... bem... pode nem ser aquilo que nos realizará. Algumas escolhas nessa época podem nos levar a caminhos que nem sempre, bem mais tarde, queríamos ter ido. Mas vamos lá. Somos maiores de idade, agora responsáveis e a tênue virada de um adolescente boboca para os recém feitos 18 anos não conta muito nessa época. Achamos, a partir dai, que os pais não sabem nada, os amigos muito pouco, mas a gente... Ah a gente. A gente sabe tudo!!!. Tenho certeza absoluta que deixamos passar muito coisa nessa época. Falta maturidade, falta experiência, falta sabedoria. Falta também humildade e sobra arrogância. Falta visão de futuro e sobram sonhos que não se realização. Mas do alto da nossa tolice, não temos o alcance de saber que eles não se realizarão. E assim, ano após ano, vamos construindo o sonhado futuro. Às duras penas, aprendemos que aquele tempo que não passava nunca quando se queria depilar as pernas, agora passa muito rápido, com somente alguns intervalos de lentidão e congelamento. Esses intervalos, que podem ser sofridos, estão escondidos atrás do tempo que está realmente passando. O congelamento era só impressão gravada nas expectativas. Quando a gente achar que tem todo o tempo do mundo para viver tudo que planejou, sonhou e imaginou, é melhor lembrar que o Cazuza estava certo e que o tempo não é um trem que passa, mas volta para te pegar em qualquer outra estação. Ele sequer pára, quanto mais volta.