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25 de mai. de 2007

Um chapéu ansioso

Era uma vez um chapéu. O chapéu era altivo e imponente, porém ele nunca conseguia um lugar na chapelaria mais elegante da cidade. Desde bem pequenino, o chapéu queria ingressar na loja do Sr. Vasconcelos, conceituada loja de chapéus masculinos, que sobreviveu a um tempo em os homens usavam esse acessório como forma de mostrar poder, status e elegância. O chapéu tinha vários outros amigos que jamais se interessaram em se preparar para a loja do Sr. Vasconcelos. Esses outros amigos viviam nas ruas, brincando, jogando e se divertindo e nunca entenderam direito a determinação do chapéu em aspirar um lugar na loja elegante. Quase todos os dias o chapéu parava em frente à loja para admirar os outros chapéus expostos, sem entender muito bem porque ele nunca era convidado a ser exposto na loja. Um dia, durante essas suas passadas pela loja, o chapéu notou que o dono estava ausente e que havia um substituto atarefado atendendo os clientes. Coincidentemente, um chapéu havia sido vendido e havia um lugar disponível para o qual o chapéu se atirou, se ajeitou, e com a sua melhor pose de chapéu de classe, ali ficou. Nesse momento, ele sentiu um orgulho imenso de estar ali, mas que durou apenas alguns segundos. Postado ali naquela vitrine, ele percebeu que olhar de dentro para fora não era tão empolgante como olhar de fora para dentro. Ao entrar ali ele estava deixando lá fora um mundo de acontecimentos e não faria mais parte dele, se ali permanecesse. Ao olhar para dentro da loja ele somente via a harmonia, o silêncio e a elegância dos chapéus e isso chamava tanto a sua atenção que ele não tinha olhos para mais nada. Agora, tendo feito as considerações nas duas posições, ele pensou que seu lugar era realmente fora da loja. Pensando em uma forma de se mandar dali o mais rápido possível, ele sentiu um toque. Alguém iria comprá-lo. E agora? Como explicar que ele não estava à venda? Que ele não pertencia à loja? Que tudo aquilo era um equívoco? Nesse momento, e antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, ele foi gentilmente embrulhado, colocado em uma caixa e entregue ao seu novo dono. O chapéu nunca tinha se sentido tão sufocado antes, dentro de uma caixa. Com o balançar cadenciado ele foi sendo levado para o seu novo lar. Sentiu-se zonzo, enjoado, quis pedir para o seu novo dono parar, para que ele pudesse respirar, mas nada disso foi possível. Depois de algumas horas de andanças ele finalmente chegou. No primeiro momento, foi deixado em cima da cama, ainda fechado em sua caixa. Depois, foi gentilmente colocado ao lado de outros tantos chapéus, enfileirados uns ao lado dos outros, para o que poderíamos chamar de mais um item para uma coleção de chapéus. Não sairia dali tão cedo, não olharia mais a vitrine com os outros chapéus elegantes, não teria mais a possibilidade de se passar por um chapéu elegante, pois ao realizar seu maior e único desejo, deixou milhares de possibilidades para trás. Foi assim que a história conheceu o primeiro chapéu a sofrer de ansiedade.

Um comentário:

Anônimo disse...

... ñ consegui ler todo o blog, volto amanhã pra ler mais, com calma, com gosto ... mas antecipo q gostei deveras ... os posts são ótimos, pega beijo....