..

..

30 de mar. de 2007

O direito de calar

"Você tem o direito de permanecer calado, porém tudo que você disser será usado contra você..." Você poderia pensar que está lendo parte do tratado de Miranda, instituído em 1966, quando Ernest Miranda foi preso, sem ter sido informado de seus direitos. Acharam tanta sacanagem com o pobre do Miranda, que quando ele foi assassinado a facadas na prisão, alguém achou que deveria ler ao assassino o aviso de prisão, que foi denominado então Miranda warning, muito ouvido nos meios policiais dos enlatados americanos. Porém, não estamos falando do tratado. Estamos falando de uma pura realidade da vida, quando tudo, absolutamente tudo que a gente diz pode ser, e certamente será, usado contra nós mesmos. Lembra-se quando você contava para a sua prima querida ou para seu melhor amigo algum segredo de vital importância para você? Na primeira briga, tudo aquilo que você tinha contado voltava zumbindo ao seu ouvido, como se a pessoa tivesse prazer em te contar exatamente aquilo que você já sabe, só que dito agora com ares de crítica e superioridade, como se o outro fosse detentor de certo poder sobre a sua informação. Muito cuidado tem que ser tomado com aquilo que contamos aos nossos melhores amigos. Segredos então, nem pensar. Aliás, eu nunca entendi muito bem essa dinâmica dos segredos. Quando se tem alguma coisa que ninguém, mas ninguém, pode saber a gente corre contar e pede segredo. Quanta estupidez! Se você que é o dono do precioso segredo não se conteve e contou, por que você acha que a outra pessoa tem obrigação de guardar o "seu segredo"? Eu, particularmente, nunca me meti em enrascada por sair contando por aí os segredos alheios. Posso até garantir que não foram poucas as vezes que fiz isso. Devo ter uma certa imunidade divina para os segredos dos outros que revelei ao longo do caminho, mas gostaria mesmo de saber quantos dos meus segredos, aqueles preciosíssimos que eu não consegui conter, estão soltos por aí, sendo divulgados no melhor boca a boca possível.

3 comentários:

Anônimo disse...

hum...que coisa mais lúcida de se dizer sobre a natureza humana...mas ser humano é assim, Saia, sem lógica ou tem lógica esquisita. Uns são bocudos enquanto outros não contam segredos nem pro analista, que dirá pro padre! Uns desconfiados, outros crentes demais. Em tempo, seu texto é delicioso, limpo e claro. Bom de ler e ainda nos faz dar tratos à bola

Anônimo disse...

Comecei a ler este seu texto e me lembrei da clareza e gostosura do texto da Danuza Leão.
Logo,logo você chega a QuaseTudo.

Luísa

Anônimo disse...

sou digital. divido o mundo ao meio. metade boa, metade ruim. divido tudo ao meio. desde que buda descobriu, por malasartes, que o meio é o caminho. assim, gostaria que o direito de calar fosse, para metade do mundo, não um direito mas uma obrigação. a outra metade iria agradecer. como se fala merda neste mundo, hem, saia?