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28 de fev. de 2008

Sobre a velhice

Envelhecer é fatal, caso não sejamos vítimas de uma passagem precoce. Envelhecer saudável e antenado é o desejo de muitos e a realização de poucos. Envelhecemos à medida que desistimos e ficamos cansados de tanta modernidade. As modernidades não param de chegar e nos bombardeiam por todos os lados. Alguns serão mais susceptíveis e ainda tentarão, por algum tempo, seguir as novas tendências, outros deixarão para lá. Lembro-me da dificuldade que meu pai tinha para digitar milhares de senhas e contra-senhas no caixa eletrônico, pois tinha mãos grandes e seus dedos desajeitados acabavam digitando tudo, menos a sua senha correta. Desistiu de ir ao banco. Lembro-me também da dificuldade que ele tinha em lembrar onde estavam os radares eletrônicos e acabava sendo multado a cada passeio. Desistiu de dirigir. Ele também adorava bons restaurantes e comidas apimentadas e fortes. Porém, à medida que tempo passava, cada vez menos ele se satisfazia com os sabores. Desistiu dos restaurantes. Fico me perguntando por quanto tempo conseguiremos manter o interesse nas coisas da juventude, nos sabores da juventude, nas modernidades que nos atropelam. Creio que com o passar do tempo passem também os nossos interesses e o nosso desejo de acompanhar tanta modernidade e inovação. Danem-se as modernidades. Quem viveu sem elas até então, pode prescindir de tentar, inutilmente, acompanhá-las. Viva a desistência. Viva a letargia. Viva a indiferença. Um dia não precisaremos mais acompanhar as novas tendências. Um dia não precisaremos mais fingir que estamos interessados. Um dia e não é necessário mais que um dia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Há uns anos me vi contemplando a vida, mais do que participando dela, ou, como disse um Mestre, “deixando de ser viciado no mundo”.
Sempre fui um viciado no mundo, sempre acompanhei tudo. Quando voltava de viagem, sempre trazia um brinquedo moderno e inusitado para as crianças. No final, era eu que sempre acabava gostando mais do que eles.
De uma hora para outra, acho que lá pelos 47 anos, parei.

Hoje noto as pessoas se debatendo, correndo de um lado para outro, todas “busy” e sem tempo para nada. Hoje é chic ser “busy”, carregar um mundo de “gadgets” no bolso ou na bolsa, falar em dois celulares ao mesmo tempo, estar no notebook, msn, skype, ipod, gps, mp3, mp4, dvd, digital para lá, digital para cá, enfim, todo mundo busy 24/7.

Outro dia visitei uma amiga e quando entrei na sala, estava ela em seu pc, com tudo o que se pode ter de gadgets pendurados e o marido, no sofa, também com seu notebook, plugado em tudo. Acho que os dois conversavam entre si através do msn. Foi o que pensei na hora. Desnecessário dizer que a minha visita foi de curtíssima duração.
É “in”ir em uma festa, ficar 5 minutos e sair correndo porque o sujeito é busy. Dizer que não tem tempo para nada é in também, enfim. Dei uma de busy e fui.

Como eu dizia, hoje contemplo. Contemplo a modernidade através dos meus filhos, que, naturalmente, são minhas referências dos efeitos do moderno sobre as pessoas. Contemplo a modernidade sem participar dela tão intensamente, com menos vícios, sorrindo através das formas pelas quais os mais jovens utilizam –na para se expressar, para questionar. Sorrio também através do deslumbre dos mais velhos quando descobrem, ainda que tardiamente, o que se pode fazer com um Pc em mãos. Sento, olho, contemplo, admiro e sorrio para tudo isso.

Às vezes faço um ócio produtivo com a garotada quando eles passam aqui em casa. Nada de pcs, músicas, tvs, nada. Só exercícios de conversa “acústica”, ou seja,sem acompanhamentos eletrônicos de fundo ou ao redor.

Sinal de envelhecimento? Pode ser, não sei…sei que aprendi a gostar disso tudo sem ser isso tudo. Uso meus Pcs e Macs para minhas funções utilitárias, para ler o jornal, porque tenho preguiça de ir comprar, para escrever para os amigos, para escrever umas bobagens aqui no blog da minha querida, que me tenta com seus textos e só, acho.

Apenas gosto das coisas da juventude, das coisas da modernidade e dos efeitos do passar do tempo, sem ser indiferente e sem me tornar um viciado nelas. E no mundo.

Alê

Anônimo disse...

Alguém disse algo parecido com "...o homem deveria nascer velho e ir regredindo até morrer". Concordo plenamente, são muitas as perdas que vamos sofrendo ao longo da vida por conta da velhice.
E ganhamos o que? Filas especias em bancos? Passe livre em circulares? Universidades para a 3ª idade? Experiência?
Alguém, por favor, me convença que envelhecer é bom!
Rê.