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29 de abr. de 2007
Entrada deliciosa
Dizem que o alho é, ao mesmo tempo, antibiótico, bactericida, vermífugo, antiviral e antiprotozoário. Fui criada em uma casa onde 25% da família odiava alho, 25% amava, 25% era indiferente e 25% não se manifestava. A mãe, sorrateiramente, enfiava alho em todas as receitas, o pai, espertamente, descobria toda vez a façanha e tinha xiliques com mãe e com o resto da família pela solidariedade que prestavam à mãe. Desta forma e por vivermos em um sistema patriarcal, o alho foi desestimulado até a sua total extinção nos pratos da casa. Apesar de não ter desenvolvido total ojeriza ao item, nunca fui muito adepta, até conhecer a seguinte receita em um elegante restaurante que servia essa receita como entrada. Foi nessa ocasião que me apaixonei perdidamente pelo bulbo. É fácil, delicioso e vicia. Pegue alguma cabeças de alho bem grandes, corte a parte superior mas não separe os dentes, coloque-as sobre uma folha de papel alumínio aberta e jogue por cima das cabeças de alho inteiras, generosamente, os seguintes ingredientes: muito, muito azeite, orégano, sal a gosto, pimenta calabresa em sementes e páprica picante. Feche o papel alumínio como se fosse uma trouxa e leve a bandeja ao forno por aproximadamente 30 minutos em forno médio. Depois de pronto, vá retirando gentilmente com um garfo os dentes cozidos da cabeça de alho. Sirva com pão italiano. Um elegantíssimo lambrusco não pode faltar. E voilà, bon appétit.
28 de abr. de 2007
New Year´s Resolutions
Todo ano, no início de cada um, milhares de pessoas, em milhares de lugares, farão uma ou duas promessas para o ano que se inicia. Resoluções de início de ano existem desde o dia em que começaram a contar o tempo, para que a gente a cada dia, mais desesperadamente, ficasse correndo atrás dele e fazendo promessas que não vamos cumprir. Por que será que temos que fazer resoluções de ano novo? Por que não podemos fazer resoluções de meio de ano ou de meio de semestre ou de bimestre? Por que temos que nos prometer coisas que nunca cumpriremos, só porque o calendário mudou? Acho que parar de fumar encabeça a lista de promessas. Perder peso drasticamente deve vir em segundo lugar. Cortar o cafezinho pela metade, baixar o colesterol, ler mais, trabalhar menos, passar mais tempo com a família, amigos, filhos e cachorros, parar de beber, ou diminuir as doses, fazer yoga, pilates, spinning, tae ken do, tornar-se budista, parar de adiar as coisas, fazer novos amigos, trocar de marido, de esposa, arrumar um amante ou desistir de um, fazer um curso de sapateado, de dança do ventre, de xaxado, parar de roer as unhas, fazer um curso de culinária, aprender um novo idioma, terminar o décimo quinto curso de inglês, falar menos, ver menos, ouvir menos para enfiar-se em menos problemas, fazer a viagem dos sonhos, mandar o chefe à merda pelo menos nesse ano, fazer algo para salvar o planeta, gargalhar mais, chorar menos, parar de reclamar de tudo, olhar para trás para iluminar o para frente, guardar dinheiro, trocar de carro, ficar menos tempo no chat e fazer uma tatuagem devem ser as maiores promessas. Conheço uma pessoa lúcida que nunca faz resoluções de ano novo, porque sabe que não vai cumpri-las, mas deve ser o único ser vivente que não as faz. Enfim, qual das resoluções acima você já fez, ainda não cumpriu e não vai cumprir jamais?
25 de abr. de 2007
Yankeefobia...
Um dia alguém me disse: "Vá a NY porque NY tem a sua cara". Pois é, não tem. Acho que estou mais para um Miami básico, assim meio que o vira lata da América do Norte, porém bem mais divertido. Um dia alguém também me disse "Ou você ama ou você odeia NY, não existe meio termo." Acho que pendi totalmente para o lado de NY never more. Para começar, em NY pode-se fazer um ótimo comércio: comprar os yankees pelo preço que eles valem e vendê-los pelo que eles acham que valem. Está ai um meio seguro e lícito de se enriquecer, que ainda vai ser descoberto pelos nossos políticos. Outra coisa esquisita em NY é aquele Central Park. Um lugar imenso, para quem gosta de lugares imensos, bem arborizado, para quem gosta de lugares arborizados e sinistro, bem sinistro. O Central Park é um Ibirapuera com sotaque americano. Para quem gosta, uma maravilha, para quem não curte, um belo lugar para se perder tempo, muito tempo, tendo em vista a extensão do dito cujo. Uma coisa, especialmente, me chamou a atenção no Central Park...o cheiro. Sim, cheiro... não me refiro ao aroma, refiro-me ao cheiro de merda de cavalo. E como cheiros são marcantes porque o nariz humano tem cerca de cinco milhões de células olfativas, toda vez que eu sinto cheiro de merda de cavalo, eu me lembro de NY. E aquele passeio de charrete, hein? É claro que fui, porque se você entra na chuva, quer se molhar. Adivinha se o charreteiro, hermeticamente protegido do frio, não ofereceu um cobertor verde, todo velho, empoeirado e cheio de bolinhas, para tornar o passeio mais quentinho e agradável. Declinei simpaticamente do cobertor, agradecendo e fazendo aquela cara de quem não está sentindo o mínimo frio e está totalmente adaptada ao clima. Também não gostei do cachorro quente imperdível que me sugeriram comer e achei o fim da picada aquele memorialzinho do John Lennon com uma macinho de flores murchas e um sósia do John Lennon, cumprimentando a todos animadamente. Outra coisa que não entendi foi o sistema de segurança do hotel. Exatamente às 23h30, um cara se plantou em frente aos elevadores, pedindo para ver a chave do quarto e autorizar a entrada. Será que a falta de segurança local só tem início às 23h31? O mais engraçado é que perguntado, o cara também não soube me responder. Enfim, na sua próxima viagem aos Estados Unidos, visite Paris.
20 de abr. de 2007
Enxoval???
Outro dia, desavisadamente, ouvi a palavra enxoval e pareceu-me fazer séculos que não ouvia essa palavra. A bem da verdade, embora jamais tenha feito um, eu sou do tempo do enxoval. Cheguei a ver em armários (que à época se chamavam guarda-roupas) de amigas minhas, dezenas de items a que elas chamavam de enxoval. Não sei se era impressão minha, mas essas peças sempre me pareceram meio amareladas. O pior não era, exatamente, a rapariga gastar dinheiro desnecessário, ocupar espaço desnecessário, comprar itens desnecessários. O pior era a moça mostrar-me, desnecessariamente, esses itens, sendo que eu não estava minimamente interessada em nada daquilo. Nunca um amigo meu mostrou-me um enxoval e tenho quase certeza que a última coisa na qual um homem está interessado quando resolve se casar é em enxoval. O que será que era feito dos enxovais daquelas raparigas que nunca se casaram? Você não se casar é uma coisa. Você não se casar e ficar olhando todos os dias para a cara do enxoval é outra bem mais desagradável. Será que os enxovais eram doados às amigas, primas ou vizinhas que desencalhavam? Será que eram usados disfarçadamente peça a peça até que eles desaparecessem por completo? Será que ficavam para a nova tentativa de casamento? Será que o noivo posterior não se incomodava que o enxoval havia sido feito para o noivo anterior? Será que o enxoval era passado para qualquer uma das irmãs que desencalhasse primeiro? Onde será que as mães guardavam as roupas em uso para que as filhas acomodassem os enxovais? Ou será que caso a família tivesse oito raparigas haveriam oito enxovais? Como seria acomodar oito kits de enxoval em uma casa só até que todas se casassem? E se à época do casamento o enxoval tivesse cheirando a mofo? E por último, mas não menos importante, onde pais de oito mulheres arranjam oito maridos para suas filhas?
17 de abr. de 2007
Pernas para que te quero
Pernas são o começo de tudo. As pernas nos levam a lugares nunca idos. As pernas nos trazem de volta desses lugares. Os bebês engatinham e já nesse momento as pernas são grandes condutoras. No andador, haja pernas, as do bebê e as da mãe, para passar o dia correndo atrás da criancinha. Pernas são imprescindíveis e acho que vocês sabem exatamente do que estou falando. Com lindas pernas você desfila nas calçadas das praias. Com pernas finas você usa calças compridas como se as saias ainda não tivessem sido inventadas. Com pernas grossas você promete não dar uma pernada em ninguém, pois seria uma agressão física. Pernas femininas são sexy - algumas - pernas masculinas são musculosas e másculas - quase nenhuma. Quando eu era garota, os meninos diziam que as pernas são o caminho para o pecado. Que coisa mais cafona de se dizer, mas deve ter adulto que ainda acha isso. Se as pernas femininas levam para o pecado, para onde nos levam as pernas masculinas? Certamente para o campo de futebol mais próximo. Os homens têm uma vantagem sobre as mulheres em relação às pernas. Pernas masculinas raramente têm celulite. Olhe para um casal de velhinhos na praia. As pernas deles estão alinhadas e intactas, já as delas estão tomadas de milhões de buraquinhos. Mas será que isso é mesmo uma vantagem? Pernas masculinas não vão a shoppings com tanta frequência. E ir a shoppings é a função principal de qualquer perna vivente que esteja caminhando sobre o planeta. Acho que o último passeio das pernas femininas deveria ser uma pernada até o shopping e que o último suspiro fosse dado somente na volta. Certa vez, conheci uma sábia senhora que era doente terminal de câncer e ela me contou que durante toda a sua vida ela jamais teve um carro e que sempre caminhou para todos os lados no decorrer de sua vida e frisou - "se carro fosse necessário, Deus não teria nos dado duas pernas, teria nos dado um carro".
15 de abr. de 2007
Que dia é hoje?
Sabe que dia é hoje? Não sabe! Então experimente olhar-se no espelho. Você está com um aspecto estranho, desbotado, sinistro e acabado. Você está com olheiras profundas, coisa que normalmente você não nota em seu rosto. Você parece mais magro, ou mais gordo, Você parece mais velho, nunca mais novo. Seus cabelos parecem mais oleosos ou sinistramente crespos, ou arrepiados, ou mal cortados. Seu rosto parece encovado e abatido e por mais que você sorria para o espelho, sua boca insiste em não obedecer os seus comandos. Mas você insiste, arruma-se e sai de casa. Durante o seu caminho para o trabalho, você nota que o trânsito está insuportavelmente carregado, os pedestres insistem em se atirar em frente ao seu carro. Cachorros e ciclistas, que você não vê normalmente, atravessam alegremente a rua. Nesse dia, todas as motocicletas que existem no planeta estão te ultrapassando pela direita. Todo e qualquer semáforo que você cruza está fechado. Você olha para o relógio e certifica-se que está atrasado. Nesse momento você se lembra, também, que algum filho da puta marcou uma reunião, um workshop, um curso ou uma visita importante para as 08h00 da manhã. Por que todos os filhos da puta que existem no mundo têm uma característica em comum? Eles marcam reuniões de trabalho às 08h00 e ainda assinalam o pontualmente porque sabem que ninguém está pontualmente em uma reunião que começa nesse horário. Não lhe dão um minuto sequer para um bom dia, um café, um copo de água ou um xixi. Não. A reunião inicia-se às 08h00 pontualmente. Você respira fundo, é otimista, acha que vai conseguir chegar em tempo para a reunião. Acelera o carro, mas não pode acelerar muito porque você está rodeado de radares. Você tenta se acalmar, se acalma e chega ao trabalho. Corre para a sua mesa e faz cara de quem chegou no horário. Espera com otimismo que todos os outros estejam atrasados. Inicia seu PC e percebe que está sem sistema e que toda a sua apresentação para a reunião está lá, ainda dormindo e por lá ficará até que o sistema volte a funcionar. Você ainda quer mesmo saber que dia é hoje?
13 de abr. de 2007
Amarfanhados
Mimos, regalos, gifts, presentes, lembrancinhas e presentões. É sempre bom ser lembrado, não importa a ocasião. Existem pessoas muito fáceis de serem presenteadas e existem as nem tanto. As fáceis estão sempre ganhando presentes. As nem tanto não ganham nada, nem em ocasiões especialíssimas. Normalmente, as fáceis não se importam com a qualidade do pacote. Já as nem tanto, ao ver um pacote pouco elaborado, ficam pensando de que buraco tiraram aquele treco todo amarfanhado a que decidiram chamar de presente. Os olhos das fáceis brilham ao menor esboço de um pacotinho mal embrulhado em sua direção. As nem tanto ficam pensando que dentro de um pacotinho mal elaborado sempre tem alguma coisa que elas não vão gostar e que vai ser largada no primeiro canto, na primeira oportunidade. As fáceis adoram festas de amigos secretos porque sabem que sempre vão se agradar com o presente. As nem tanto odeiam estas festas, pois sabem que o pior presente vai cair para elas e, quase sempre, no embalo, caem também com o pior amigo secreto possível. As fáceis sorriem efusivamente ao abrir qualquer presente, não se importando realmente com o conteúdo, mas sim com a lembrança e a atenção. As nem tanto dão um sorriso tão amarelo quando não gostam do presente, que conseguem garantir que nos próximos anos aquela pessoa nunca mais os presenteiem. As fáceis jamais trocam um presente recebido. As nem tanto já começam a procurar a etiqueta da loja antes mesmo de abrir o presente, para garantir a troca em caso de insatisfação, que quase sempre ocorre em 100% dos casos. As fáceis sempre conseguem comprar presentes para outras pessoas, sem grandes trabalhos, preocupações ou estresse. As nem tanto, baseadas em própria experiência, se preocupam tanto com o que vão presentear, que se estressam e acabam comprando não o que gostariam, mas pressionados porque o tempo para a compra já se esgotou. Fico imaginando aqui porque as pessoas fáceis ganham tantos presentes e as outras - nem tanto.
10 de abr. de 2007
Fetiche x pingentes de ouro
O desejo do podólotra se concentra nos pés. Diga-se de passagem, a palavra podólotra não existe em nenhum dicionário da língua portuguesa e não é reconhecida pela Academia Brasileira de Letras. A palavra, entretanto, mora na cabeça de muitos homens, que prescindem de um monte de outras diversões em uma mulher para se concentrarem nos seus pés. Nem todos, porém, são amantes de pés femininos. Como se explica, então, esse fascínio de alguns? Diz a história que as mulheres se cobriram por tanto tempo, que quando resolveram primeiramente descobrir os pés, eles passaram a ser erotizados e esse erotismo persiste até hoje. Diz a psicologia que quando os bebês engatinham, a primeira visão que eles têm são os pés das mães, tias, avós e babás, quando elas se aproximam e eles passam, dessa maneira, a associar os pés femininos com aconchego, carinho, alimento, proteção e suprimento. A verdade é que quando um homem gosta de pés, ele gosta e ponto. Não adianta oferecer outras partes do corpo feminino que ele não aceita substituições. Tenho uma amiga, mãe de dois garotos, que insistia em usar aqueles pingentes de ouro em forma de criancinhas. Essa minha amiga, senhora respeitável, uma profissional bem sucedida e muito bem casada resolveu ir ao dentista. Para sua surpresa, o dentista era muito charmoso, atencioso e... podólotra. Na primeira consulta ele somente olhou para os pés dela, na segunda os massageou, na terceira os colocou na boca e na quarta ele resolveu ir avante e para cima com o seu fetiche. Ele foi se animando, subindo, subindo, quando se deparou com as duas criancinhas de ouro penduradas no pescoço dela e muito sorridentes. Tenho a impressão que esta cena fez o sujeito repensar o seu fetiche, pois eles não somente terminaram o caso, como eu não a tenho visto mais usando os dois garotinhos de ouro pendurados em seu lindo pescoço.
9 de abr. de 2007
O ritual do banho
O banho faz parte da rotina diária e é uma das milhares de coisas que o ser humano tem que fazer no decorrer de um dia. Para uns, um ritual quase que sacerdótico, para outros, uma rotina de cinco minutos para acordar e pronto. Alguns amam tomar banho, outros, nem tanto. Alguns tomam banho diariamente, outros, nem tanto. Existem aqueles que abrem o chuveiro, mas na verdade não entram no banho. Existem aqueles que tomam banho fervendo e aqueles que tomam banho gelado e aqueles ainda que, como tudo na vida é morno, tomam também o seu banho nessa temperatura. Existem aqueles que amam tomar banho de banheira e outros que já transformaram a banheira em jardim interno. Banho renova e desestressa. Banho revitaliza e revigora. No começo de um casamento, a hora do banho torna-se o lugar mais apaixonante e relaxante para as novas conversas conjugais. Esse ritual pode se perpetuar por muitos anos até que um deles perceba que está frio naquele dia e que a água quentinha não está sendo suficiente para ambos. Haverá alguma conversa sobre o assunto e alguma tentativa de acomodação com relação ao espaço físico e a quantidade de água existente, que agora já parece não ser suficiente para dois corpos. Essa negociação pode demorar mais alguns anos, e com sorte o banho ainda será um momento de conversas e trocas, mas muito certamente nesse momento é hora de começar a procurar um outro cômodo para as tais conversas, que agora também já não serão nem mais tão apaixonadas e nem tão relaxantes. O bom de tudo isso é que se você quiser retomar o seu ritual, não haverá outra hora mais apropriada, do que a hora do banho.
7 de abr. de 2007
Kitsch
Eu adoro um bagulho kitsch. Não posso ver um pingüin de geladeira que me animo toda. Uma cesta aramada de colocar ovos em forma de galinha me dá frisson e preciso ver com as mãos. Flores de plástico, então, nem se fala. Podemos conviver com elas de uma maneira muito saudável, pois são anti-alérgicas, não precisam de cuidados especiais e quando ficam velhas não soltam todas as folhas secas e não cheiram cemitério ao serem jogadas no lixo. Que casa não tem um ou dois objetos kitsch, esteticamente colocados, em um lugar de destaque. Tenho certeza que se você olhar em volta, achará um objeto kitsch bem pertinho de você. Kitsch independe de cultura, nacionalidade e classe social. Já me deparei com um dálmata de louça em tamanho natural em uma sala muito elegante, porém alguém, em algum momento, não resisitiu e se rendeu ao kitsch da coisa. Existem certos objetos que são irresistíveis. Não que você vá querer tê-los em casa, mas saber que eles existem já faz a diferença. Além do mais, muita coisa que hoje é kitsch fez parte da nossa infância. Hoje fazemos cara feia para aqueles objetos que nossos pais consideraram a alma da decoração nos áureos tempos e colocaram estrategicamente nos locais mais nobres da casa. Fazemos isso para parecermos modernos e arrojados, mas no fundo, no fundo, existem certas coisas que nos dão um friozinho na barriga e nos remetem para dias totalmente memoráveis...
5 de abr. de 2007
Um terno terno
Um terno é um treco muito esquisito. Um homem usando um terno são dois trecos bem esquisitos. Difícil entender como uma roupa singular desfila pelas mais diferentes esferas com a mesmas cores, padronagens e cortes. Ternos vão de casamentos a velórios, inclusive o próprio defunto vai vestido assim, com o mesmo desembaraço. Ternos independem, também, de temperatura. Eles vão de 15º a 40º com a mesma desenvoltura. Um trabalho que requer o uso de um terno pode te dar tanto status quanto um calor infernal. Mulheres tendem a achar que os homens que usam ternos têm melhores salários. Pergunte à esposa do vendedor de bíblias se ela tem a mesma opinião. Homens que trabalham de terno todos os dias alternam no dia-a-dia ternos claros e escuros para não parecerem repetitivos, pouco criativos ou até mesmo pouco higiênicos. Se um homem entender que o uso diário do terno o está deixando com ar monótono, ele certamente vai tentar animar a cara do terno com gravatas divertidíssimas. Cuidado especial tem que se tomar com gravatas divertidíssimas ou o motivo do riso pode ser você. A gravata é uma peça independente do resto do traje, elemento de criatividade do conjunto, mas não abuse do conceito. Quando o assunto é gravata, esqueça o Pernalonga, os Flinststones e o Piu Piu. Para fugir desses perigos, use uma gravata regimental. Neste momento, você me perguntará o que é uma gravata regimental e eu responderei, após pesquisa, que gravata regimental é aquela com listras em viés. Comprimento de gravata também é essencial, mesmo porque as mulheres podem associar o comprimento da gravata com o tamanho do pênis. Uma pesquisa mostrou que homens com as gravatas curtas eram taxados de mal dotados, enquanto muitos centímetros foram ganhos por aqueles cujas gravatas eram mais compridas. Se você usa terno regularmente, por favor, não tenha caspas. Não existe nada mais comprometedor do que ternos com caspas. Sua credibilidade, seu ar de bem sucedido e seu status irão para as picas, caso você seja portador de deselegantes caspas. Alfinetes de gravatas? jogue fora! Ternos baratos? jogue fora! Ternos mal cortados? jogue fora! Afinal de contas, você não vai perder a chance de ficar arrumadinho com a única roupa que definiram que um homem deveria usar para ficar elegante.
3 de abr. de 2007
Me dá um tempo...
Eu preciso urgentemente de mais tempo. Tempo para dormir, tempo para acordar, tempo para respirar e tempo para conversar com quem tem mais tempo. Tempo para andar a pe. Tempo para terminar o que comecei. Tempo para ler o que ainda não li. Preciso de tempo para dar atenção, tempo para parar de correr. Preciso de tempo para entender o que ainda não entendi e tempo para deixar de entender aquilo que quero esquecer. Tempo para redimir as minhas culpas, dirimir os meus pecados e lapidar os meus medos. Tempo para parar de olhar o relógio e tempo para olhar os que estão ao meu lado. Preciso de tempo para remir e tempo para pedir perdão. Tempo para criar, tempo para inventar, tempo para desmoronar e tempo para erigir. O tempo é sinistro e não quer me dar tempo. Tempo passado é tempo perdido. Tempo futuro é tempo temido. Tempo presente é tempo indefinido. Tenho medo de perder o tempo, mas tenho muito mais medo que o tempo acabe me perdendo.
2 de abr. de 2007
Pets
Diz o ditado que cada um tem o animalzinho de estimação que merece e isso deve ser uma grande verdade. Bolinha era uma galinha gorda, branca com tendências ao amarelo claro e mimada. Fazia parte do ambiente familiar como se fosse a caçula da casa. Tinha trânsito livre em todos os ambientes, inclusive em cima das camas. O mais engraçado de tudo isso era que, apesar do trânsito livre, nunca foi visto, sequer, um coco de galinha em cima das camas, coisa para mim inexplicável até os dias de hoje. Bolinha tinha uma personalidade encantadora e era ótima companheira. Passeava de carro com a família, ia a supermercados, quase que como para comprar seu próprio alimento. Não ia ao petshop porque à época o tratamente estético de galinhas era feito de maneira caseira. Por esse motivo, Bolinha era a galinha com os pés mais bem tratados do galinheiro. Falar que ela vivia no galinheiro seria ofensivo demais à Bolinha, caso ela pudesse nos ouvir. Ela realmente vivia no seio familiar. Semanalmente, Bolinha tinha seus pés lavados com sabonete e com uma escova de dentes, que até hoje não foi precisado a que membro da família pertencia. Porém, o procedimento era bem simples, a galinha era colocada na pia do banheiro, pegava-se a escova de dentes, esfregava-se no sabonete e fazia-se a assepsia dos pés de Bolinha até que eles ficassem completamente amarelinhos, sem um resquício de terra sequer. Após esse ritual, a galinha era colocada de novo no chão para que, com aquele andar estranho e balançar de cabeça, pudesse continuar a sua rotina diária. Hoje, quando penso que não fui ao enterro de Bolinha, fico me perguntando que fim deu a tão estimada galinha, que nos dias de hoje jamais se chamaria Bolinha e jamais seria comida de maneira tão inescrupulosa.
1 de abr. de 2007
De verdade ou de mentira?
Desde muito pequeninos aprendemos que se dissermos mentiras o nosso nariz vai crescer. Será? Todo o modelo entre verdades e mentiras está desenhado para que mentiras sejam ditas em detrimento das verdades. Dizem que quem fala a verdade não merece castigo, mas não é bem assim que a coisa se passa. Verdades são punidas com castigos, repreensões, corte de mesadas, proibições de sair de casa, entre outras. É nessa fase da vida que se absorve a mentirinha branca, essa que é dita inocentemente o tempo todo. Aliás, desde muito cedo, somos abstraídos da realidade e colocados em mundos de fantasias, devaneios e fábulas e ainda nao querem que mintamos quando adultos. Mas será que mentiras são mesmo necessárias? Elas são muito necessárias. Elas são a base de muita harmonia. Já pensou se todo político dissesse a verdade e não mentiras institucionais? O caos seria muito maior. E se os maridos e as esposas dissessem somente a verdade? E os filhos? O mundo não sobreviveria somente com verdades sendo ditas. Imagine seu chefe dizendo o que ele pensa de você e você dizendo o que pensa dele? Ainda acha que mentir é desnecessário? Vivemos em um eterno primeiro de abril e gostamos disso. Melhor mesmo é ouvir uma mentira simpática do que uma verdade pungente e dolorosa. Se você ouve uma verdade, você tem que tomar uma atitude e nem todo mundo gosta de tomar atitudes. Platão já havia catalogado duas espécies de mentira, uma moralmente sancionada, ou mentira útil, e outra absolutamente condenável. Pensando bem no que disse Platão, mentira útil deve ser opor à verdade inútil, mas isso é uma conclusão própria. Existem também os mentirosos compulsivos, mas acho que isso está me levando aos políticos novamente. Existem ainda a mentira patológica e a mentira fisiológica. A fisiológica é essa que todo mundo diz e que atrapalha a psiquiatria em descobrir a mentira patológica, já que pesquisas mostram que todos mentem de uma forma ou outra. Eu gosto mesmo é da mentira social: como você esta bonita hoje! você emagreceu! adorei a nova cor do seu cabelo! Essas mentiras são bem vindas e estreitam laços, ganha-se simpatia e amizades, passamos a ser vistos com melhores olhos e, temos que convir, não custa nada mentir.
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